Teresa Paiva esteve na Casa da Música, no Porto, no passado dia 16 de abril para um debate subordinado ao tema “Um objecto e os seus discursos, relógio de ensaios” em que também participou o compositor-investigador Daniel Moreira.
Numa iniciativa moderada pelo director artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, a neurologista e especialista em medicina do sono fez uma intervenção a que chamou “O Tempo e os ritmos”, abordando a percepção do tempo de sono e as horas que as pessoas pensam ter dormido e as que dormem realmente.
“Ao contrário do que pensam, muitas pessoas dormem efectivamente mais ou menos, conforme o seu tipo de personalidade. O optimista pensa ter dormido sete horas e o pessimista três horas e meia. Porém, o tempo efectivamente dormido de cada um deve ter sido de cerca de seis horas e meia”, diz a especialista do sono.
Numa parte da intervenção mais genérica, Teresa Paiva citou o Antigo Testamento, Eclesiastes 3:1-22, que fala sobre o tempo:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.
Teresa Paiva dissertou sobre “o que é o tempo”, citando vários autores. O tempo é “uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão”, disse Albert Einstein. Já o seu discípulo John Wheeler considerou que o tempo “é o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só”. Num registo diferente, a Rádio Relógio do Rio de Janeiro diz que “cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete.”
A especialista do sono falou ainda sobre a percepção do tempo e conceitos a ele ligados. A cronoestesia ( a percepção subjectiva do tempo) a consciência noetic (a consciência do mundo), a consciência autonoetic (a consciência de si mesmo no tempo), a avaliação retrospectiva do tempo, que implica associações de contexto e localização, a avaliação prospectiva do tempo, a capacidade de formular planos para um momento específico ou com uma duração especifica.
O director da Casa da Música, António Jorge Pacheco, lançou o debate com as seguintes palavras: “um relógio é sempre um relógio, uma máquina que marca o passar do tempo, ao mesmo compasso, independentemente da regência ou do andamento. Absorto no seu tique-taque, alheio ao movimento da batuta, surdo ao pulsar dos dedos sobre as teclas, o relógio de ensaios cumpre religiosamente a métrica do tempo programado, ordenando o caos de partituras, instrumentos e artistas, inflexível ao mais pequeno deslize ou atraso. Amado e odiado, o relógio de ensaios lança a discussão sobre o tempo na música, sobre o nosso tempo e o que fazemos com ele.”