A mobilidade é fundamental no dia 22 de setembro, Dia Mundial sem Carros. É obrigatório ou pelo menos recomendável deixar o automóvel estacionado e ir a pé ou de transportes públicos para o trabalho ou para casa.
Num dos restantes 364 dias do ano em que o automóvel faz parte das nossas vidas, e devia fazer muitíssimo menos se os transportes públicos fossem melhores e mais baratos, e a sua rede fosse mais ampla, devia ser instituído um dia para sensibilizar os condutores a guiarem sem sono e fadiga.
O sono é em muitos países do mundo a principal causa dos acidentes de viação, quase sempre com mortes e feridos graves. Algumas das características dos acidentes por sonolência, como surgirem em situações inexplicáveis, em rectas e com boa visibilidade, acontecerem mais de madrugada e o condutor não fazer manobras para evitar o acidente, ilustram este flagelo, de um modo abrupto e inesperado.
Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono diz ao iSleep que “a sonolência ao volante é ainda mais perigosa que o álcool. Entre os jovens é muito comum a privação do sono associado com o álcool e por vezes as drogas, o que tem efeitos aditivos”, acrescenta.
Segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) “após 19 horas de privação de sono a diminuição de desempenho é equivalente à observada em indivíduos com uma TAS de 0,50g/l e que após 24 horas sem dormir essa diminuição é similar a uma TAS de 1g/l.”
“É por volta das quatro da manhã, apesar de haver menos veículos a circular a essa hora, que os acidentes mais ocorrem por se adormecer ao volante.
Já os acidentes de manhã cedo relacionam-se mais com a fadiga associada à privação de sono do que com o adormecimento. Por exemplo, os trabalhadores de turnos nocturnos têm um risco acrescido de acidentes no regresso a casa devido ao cansaço e ao atraso nos reflexos”, refere Teresa Paiva.
Segundo a ANSR, as principais causas da fadiga ao volante são:
- Défice de horas de sono;
- Grande esforço físico;
- Trabalho intelectual intenso;
- Ingestão de bebidas alcoólicas;
- Ingestão de alguns tipos de medicamentos;
- Estado de stress
- Estado de doença;
- Posição desconfortável ao volante;
- Longas horas de condução;
- Temperaturas extremas (muito calor ou muito frio);
- Ambiente saturado (com fumo, por exemplo);
- Monotonia provocada pelo meio ambiente e/ou pelo traçado da via;
- Deficiente arejamento do habitáculo do veículo;
- Refeições pesadas;
- Condução noturna;
- Deficiências visuais não corrigidas.
Por sua, vez, os principais sintomas da fadiga são:
- Bocejos frequentes;
- Dificuldade de concentração;
- Dificuldade em manter os olhos abertos e em focá-los;
- Sensação de picadas nos olhos ou de olhos pesados;
- Sensação de entorpecimento e cãibras;
- Impaciência, mau humor;
- Dificuldade em manter a cabeça direita;
- Sensação de reagir com mais lentidão;
- Dificuldade em reter em memória acontecimentos imediatamente anteriores;
- Pensamentos desconexos;
- Sensação de sonhar acordado;
- Mudanças bruscas de velocidade;
- Alterações no desempenho da condução, como dificuldades no manuseamento da caixa de mudanças;
- Sensação de que todos os outros condutores conduzem mal;
- Sensação de alterações no ruído próprio do veículo.
Em relação aos principais efeitos da fadiga, estes podem caracterizar-se, segundo a ANSR, por:
- Perda de vigilância em relação ao meio envolvente;
- Aumento do tempo de reação – estima-se que, após 2h de condução continuada, o tempo de reação normal do condutor duplique e consequentemente a distância de reação e a distância de paragem do veículo aumentem;
- Lentificação da resposta reflexa;
- Diminuição da capacidade de decisão;
- Perturbações na visão;
- Períodos de ausência de 1 a 4 segundos com os olhos abertos;
- Aumento da sensação de esforço.
- Menosprezo pela sinalização e dificuldades na sua descodificação;
- Dificuldade em manter a trajetória do veículo.
Ainda segundo a ANSR, as principais formas de evitar a fadiga são:
- Iniciar a viagem bem repousado;
- Dividir as viagens mais longas em etapas e dormir o suficiente nas noites precedentes
- Não estabelecer hora de chegada;
- Comer refeições ligeiras;
- Não ingerir bebidas alcoólicas;
- Ter em atenção que determinados medicamentos podem provocar sonolência;
- Manter o veículo bem arejado;
- Ajustar o banco de forma a sentar-se confortavelmente;
- Parar de 10 a 15 minutos todas as 2 a 3 horas de condução, sair do veículo e fazer alguns movimentos, prolongando esse período se necessário;